Gênero: romance/drama
Sinopse: Devido às dificuldades vividas no Brasil, a família Himura se vê diante de uma proposta irrecusável; trabalhar como operários bem remunerados no Japão, já que devido ao rápido crescimento das suas indústrias, o país passou a necessitar até de mão de obra externa. Então, apesar de reticentes no início, logo os Himuras arrumaram as bagagens e foram se aventurar no outro lado do continente. Mas, Japão não é Brasil. Isto é certo! E a partir daí, já instalados, com o gordo salário entrando na data correta, transcorre a estória das metamorfoses que, no início caracteriza-se apenas por mudanças imperceptíveis sobre o eixo familiar, mas com o passar dos anos, transforma-os completamente. Se antes as divergências se resumiam em questões como; contas mensais a se pagar, a educação dos filhos, e outras tais simplicidades, agora se alterou o foco das discussões, beirando ao esfacelamento familiar. Será que realmente valeu a pena?
Metamorfose (amostra)
A primeira vez que Eduardo Himura apeou no aeroporto de Narita, no Japão, ele ficou impressionado com algo que ele não estava acostumado a ver no Brasil.
“Caralho, que tanto de japonês!”.
Era o que ele sussurrou vislumbrado, lembrando-se das inúmeras vezes que quando criança, ele ouvia alguém na rua chamar a atenção de outro, enquanto o desconhecido apontava o dedo em sua direção, caçoando da sua cara achatada, dos seus olhos riscados, rasgados como diziam, e dos cabelos tão lisos e pretos, como jabuticaba quando chegou a hora de ser colhida. Mas estranhamente naquele aeroporto apinhado de gente parecida, apesar dos costumes nipônicos que seus pais já praticavam em casa, como as palavras ditas em nihongo, as comidas saborosas compostas pelos onigiris, pelos sushis, os sashimis, as sopas de missô acebolado, os doces de arroz recheados com feijão adocicados, — sem contar as músicas japonesas ouvidas desde manhã até o varar da madrugada pela avó doente em casa, — apesar de tudo isso; ali, pela primeira vez no Japão, Eduardo reviveu sentimentos nostálgicos da sua infância no Brasil: sentindo-se um peixe fora d'água, ou mesmo um estranho no ninho, percebendo-se sem lugar, no único lugar que imaginou ser isso possível: no país de origem.